O meu olhar é nítido como um girassol.
Tenho o costume de andar
pelas estradas
Olhando para a direita e
para a esquerda,
E de vez em quando olhando
para trás...
E o que vejo a cada momento
É aquilo que nunca antes eu
tinha visto,
E eu sei dar por isso muito
bem...
Sei ter o pasmo essencial
Que tem uma criança se, ao
nascer,
Reparasse que nascera
deveras...
Sinto-me nascido a cada
momento
Para a eterna novidade do
mundo.
(Alberto
Caeiro / Fernando Pessoa)
A expressão “eterna novidade do mundo” refere-se a
junção do eterno e do novo, o que é aparentemente impossível, e essa unidade é
feita pelos e para os humanos. É o que chamamos de arte.
A arte é, assim, a busca do
novo. É dessa forma que Claude Monet
pintou várias vezes a mesma catedral e, em cada tela, nasceu uma nova catedral.
A obra de arte dá a ver, a
ouvir, a sentir, a pensar, a dizer. Nela e por ela, a realidade se revela como
se jamais a tivéssemos visto, ouvido, dito, sentido ou pensado. É a experiência
de nascer todo dia para a “eterna novidade do mundo”.
O que há de espantoso nas
artes é que elas realizam o desvendamento do mundo recriando o mundo noutra
dimensão e de tal maneira que a realidade não está aquém e nem na obra, mas é a
própria obra de arte. Talvez a melhor comprovação disso seja a música. Feita de
sons, será destruída se tentarmos ouvir cada um deles ou reproduzi-los como no
toque de um corpo de cristal ou de metal. A música, pela harmonia, pela
proporção, pela combinação de sons, pelo ritmo e pela percussão, cria um mundo
sonoro que só existe por ela, nela e que é ela própria. Recolhe a sonoridade do
mundo e de nossa percepção auditiva, mas reinventa o som e a audição como se
estes jamais houvessem existido, tornando o mundo eternamente novo.
Nenhum comentário:
Postar um comentário