segunda-feira, 15 de março de 2021

O UNIVERSO DAS ARTES – A ETERNA NOVIDADE DO MUNDO

 

O meu olhar é nítido como um girassol.

Tenho o costume de andar pelas estradas

Olhando para a direita e para a esquerda,

E de vez em quando olhando para trás...

E o que vejo a cada momento

É aquilo que nunca antes eu tinha visto,

E eu sei dar por isso muito bem...

Sei ter o pasmo essencial

Que tem uma criança se, ao nascer,

Reparasse que nascera deveras...

Sinto-me nascido a cada momento

Para a eterna novidade do mundo.

(Alberto Caeiro / Fernando Pessoa)

 

A expressão “eterna novidade do mundo” refere-se a junção do eterno e do novo, o que é aparentemente impossível, e essa unidade é feita pelos e para os humanos. É o que chamamos de arte.

 

A arte é, assim, a busca do novo. É dessa forma que Claude Monet pintou várias vezes a mesma catedral e, em cada tela, nasceu uma nova catedral.

 

A obra de arte dá a ver, a ouvir, a sentir, a pensar, a dizer. Nela e por ela, a realidade se revela como se jamais a tivéssemos visto, ouvido, dito, sentido ou pensado. É a experiência de nascer todo dia para a “eterna novidade do mundo”.

 

O que há de espantoso nas artes é que elas realizam o desvendamento do mundo recriando o mundo noutra dimensão e de tal maneira que a realidade não está aquém e nem na obra, mas é a própria obra de arte. Talvez a melhor comprovação disso seja a música. Feita de sons, será destruída se tentarmos ouvir cada um deles ou reproduzi-los como no toque de um corpo de cristal ou de metal. A música, pela harmonia, pela proporção, pela combinação de sons, pelo ritmo e pela percussão, cria um mundo sonoro que só existe por ela, nela e que é ela própria. Recolhe a sonoridade do mundo e de nossa percepção auditiva, mas reinventa o som e a audição como se estes jamais houvessem existido, tornando o mundo eternamente novo.

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